sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Algo de dentro de mim.

“Era o início de tudo e bem como dizia nossa Clarice, era a pré-história da pré-história, onde tudo começou com um sim.”

Não sei se realmente houve um sim, porque eu vim depois dele - se ele veio antes de mim - e me deparei com o nada, muito embora, o nada foi se tornando algo enquanto seguia. Estava um breu e eu conheci o escuro, mas como saber se é o escuro sendo que do claro nada sabia? Então veio-me a luz e eu conheci o escuro. Neste acasalamento perguntei-me o que seria da luz, se não houvesse o escuro nela. Era um devaneio então continuei caminhando.
Adiantei-me nesse mundo com um verbo “ir” então eu fui e conheci Gênesis. Conjeturei se aquilo era o certo, mas precisei conhecer o errado e antes disso algo que me é mistério até hoje: a maçã, porque se existe a maçã, o que não existe para que ela possa existir?
- Apenas coma – me disse.
E eu comi. Serpenteou minhas vias sanguíneas e eu conheci a vida. A verdadeira vida era vermelha. E eu conheci o errado, mas o certo jamais, pois se fiz o errado, não soube o que é certo então o errado era o certo do mesmo jeito.
Caminhei mais entre breu e luz, tudo era novo, é claro, o velho nem se quer existia e vi mais adiante eu. Era eu porque o ser era o mesmo, mas não era eu, eu não estava onde me vi.
O primeiro olhar sim era como eu fui. O segundo me tocou e já não era eu, nem mais. O terceiro olhar eu conheci o coração e ele conheceu a mim. Eu não sei como ele é, mas o sinto. À medida do olhar vi o que não era eu mais e fui até ele. E me perdi. Se existe ele, o que não existe para ser ele? Ela. Ela não existia. Existe, portanto, agora.
Lembrei da maçã e lembrei do início que não sei se o era, ainda não o sei. E disse que sim a ela. E ela nem eu existíamos mais não era mais eu e tampouco a era. Era o amor.
E eu conheci o amor e não me lembrei do que não existe para ter amor, não precisava.
Ela e eu continuamos e o que mais, eu pergunto, o que mais eu preciso conhecer se não mais ela e o amor?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Troca de Turno.

O lugarinho que fica
A Marca do trem
Trota e trota
Tratando de seguir, ah, olha que vem!

Troca agora de banco
Leva o tratorzinho daqui, menino
Deixa sentar a grávida de brinco
E brinca sem tristeza, garotinho

Apita fumando fundo
A fornalha fumega
Entre trocas de carvão do vagabundo
Flutua na carga, o vinho da adega

Chega e crepita a chuva
Tatraca no trilho
O homem apaga o fumo
O sino badala chorando, é a troca de turno.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"Não negarei a maior amizade minha, nem mesmo que todo o céu se torne chamas

Não negarei a amizade nem mesmo que as trovoadas cessem as viajens, jamais.

Ou que caia em lástimas a maior das pragas.

Não te negarei, nem por fim ou início dos tempos nem por mais,

Não te deixarei lá acostada em lamentos

Não te prometo nada em palavras
, promessas devem ser sentidas em momentos

Não te negarei para a vida ou para pretextos

Somente te negarei se negar, te levar à bem-feitos

Negarei este poema se pedir versos sem defeitos"
- KIaus Castagnotto.

sábado, 9 de outubro de 2010

Pode ser...



Sou um Vagabundo Iludido. Com palavras de voz perdida de imagens à ver no mundo de palavras, palavras garranchosas achadas lá e aqui, no bolso de meu jeans, na minha cama desarrumada, no lixo. Uma idéia falha na folha, a falsa valsa narrada nas linhas certas do caderno... tsc, pura ilusão.
Não me recordo de ter visto o céu virar escuro, não me recordo de ter visto o futuro, mas o vi e não importa se isso foi - ou será - um fato.
Vagabundo sou eu que me deito na cama e deixo o livro do Stephen King de lado por um instante. As imagens passando na mente, ainda sem o som farfalhante da folha ou o tracejo quadrado de minha caligrafia. Era só uma historia boba, um conto de fadas horrível dedicado à pessoas que não me recordo agora quem eram. Agora sou só mais um iludido, como um baú sem fundo falso, sem teias de aranhas, sem se quer uma cicatriz de uso. Sou novo, mas há cupins usando de minha madeira, é verdade, sou só mais um iludido sem uso.
O café esparramado na mesa num acidente de madrugada, o livro manchado secando, enquanto limpo minhas calças, nada mais, nada menos.
Mas eu fico pensando quem sou nesse mundo e o que ele quer de mim. Se ele quer de minha história, terá que esperar eu escrever o primeiro capítulo, depois o epílogo para dizer se há um fim concluso ou só algo como um rádio no mudo, você me entende.
Não quero mais escrever aqui, quero pensar em sair e fugir... me encontre vagando, quem sabe eu te conto um conto e te espante com o fim de nada que só eu, um Vagabundo Iludido pode entender...